É no leste da Ucrânia que se encontra uma das regiões do mundo mais perigosas para civis por causa da ameaça oculta que as minas antipessoais e outros explosivos remanescentes da guerra representam a par do conflito em curso.
A população local convive diariamente com o inimigo. "Brilhou. Era fino como um cabelo. Estava um dia de sol. Disseram-me para ter cuidado, que não deveríamos caminhar por ali. Mas fui com os locais." Lidia Korolyova, da região de Donetsk, descreve o momento em que viu um cabo num bosque próximo enquanto colhia cogumelos.
Se tivesse ativado o mecanismo sem dar-se conta teria explodido e perdido a vida. Tragédias como esta não são raras na Ucrânia. Desde 2014, entre 1700 e 1900 pessoas morreram, de acordo com várias fontes, ou ficaram feridas por causa de explosivos resultantes do conflito armado entre a Ucrânia e os separatistas apoiados pela Rússia.
Quer na linha da frente quer nos territórios que não vivenciaram a troca direta de fogo este perigo silencioso representa uma ameaça, para crianças e adolescentes que brincam no exterior, ou para os habitantes locais que apanham cogumelos, lenha e trabalham no campo. "Semeei as sementes de girassol e podia ver atrás de mim as marcas deixadas pela passagem do trator. Olhei e vi um míssil de 70 centímetros, que estava entre as linhas da máquina.
Vieram várias pessoas e tiraram fotografias antes de ser removido", explica Mykola Zadorozhniy, habitante local. Lidiya e outros habitantes falaram sobre os objetos suspeitos encontrados aos peritos da Halo Trust, uma das três organizações não-governamentais internacionais que se ocupam da limpeza de minas no leste da Ucrânia.
Na região de Donetsk, no leste da Ucrânia, existem vários campos nos quais se está a fazer a limpeza das minas. Há várias etapas no processo, como explica Maryna Lantukh, responsável pela comunicação da HALO Trust : "É um bom lugar para ver como se parece um campo de minas. Podem ver-se os bunkers usados para a segurança das pessoas. Também há um ponto médico para atender toda a equipa. Também se pode ver o Case, o carregador frontal que é usado para limpar o terreno." O "Case", um veículo totalmente blindado com um operador no interior escava o solo nas antigas posições militares.
Por razões de segurança, pessoa alguma pode estar por perto no momento de realização do trabalho. Enquanto a nossa câmara de 360 graus grava, escondemo-nos no bunker a cem metros de distância. Na etapa seguinte do trabalho, o carregador frontal leva a terra às áreas de inspeção, onde os especialistas em desminar o território comprovam, manualmente, com recurso a detetores de metal, a presença de artefactos explosivos sem detonar minas terrestres anti-veículo. Quando o detetor apita, o responsável por desminar o solo faz um sinal, uma marcação e começa a escavação para encontrar um elemento potencialmente perigoso.
Se se encontrar alguma coisa, será necessário informar as instituições estatais responsáveis pela neutralização. Na região de Lugansk, no leste da Ucrânia, 3500 toneladas de munição explodiram há mais de três anos atrás num armazém local, custando vidas humanas, danificando milhares de casas, edifícios de vários pisos e outras infraestruturas.
Com ventos fortes e temperaturas negativas, a equipa responsável pela limpeza das minas verifica à mão uma larga faixa de terra, centímetro a centímetro, à procura de explosivos por detonar. Quando os sinais emitidos pelo detetor UXO-head são marcados, os técnicos isolam a zona com um detetor mais pequeno e mais sensível.
Depois começa o processo de escavação em cada marca assinalada. Quando a faixa de terra se encontrar segura, os responsáveis por desminar o solo passam à faixa de terra seguinte. É o chamado método linear. O detetor emite um apito, o perito marca o lugar e começa a escavação. Cada responsável por desminar o solo cobre 1 a 40 metros quadrados por dia. Há uma grande variedade de dispositivos explosivos e podem estar bem escondidos, inclusive em brinquedos.
Explicar estes e outros factos acerca de explosivos remanescentes da guerra à população local é uma outra maneira de salvar vidas. Os peritos da Fundação suíça para a Ação contra as Minas dão formação aos funcionários de uma empresa agrícola localizada perto de Mariupol. "Encontrámos no terreno munições.
Por esse motivo é que não foi uma perda de tempo recordar os trabalhadores em relação ao que pode acontecer e conduzir a perdas irreparáveis", sublinha Petro Ziborov, diretor regional da Agrotis. Os peritos dizem que depois do fim do conflito, a Ucrânia necessitará de pelo menos 15 anos para limpar os restos de explosivos da guerra. Trata-se apenas de uma previsão.
Até ao momento, nenhuma das organizações não-governamentais que se debruçam sobre o problema pode operar diretamente na linha de contacto ou nos territórios ocupados pelos separatistas. "Identificámos cerca de 15 milhões de metros quadrados de área suspeita e limpámos três quilómetros quadrados. Há muito mais que não vimos ou que ainda não tivemos hipótese de identificar por causa da questão da segurança - grande parte encontra-se na linha de contacto", lembra Nick Smart, diretor regional da HALO Trust.