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quarta-feira, 3 de maio de 2017

Dez anos depois, o que aconteceu a Maddie?


A primeira semana de maio de 2007 entrava na reta final. Era quinta-feira, dia 3. Uma noite igual a tantas outras noites de primavera no Algarve. Pelo menos tudo apontava para isso. Mas o desaparecimento de uma criança britânica de um resort, na Praia da Luz, transformou essa terceira noite de maio de 2007 numa das mais mediáticas de sempre. Dez anos depois, o que aconteceu, afinal, a Madeleine McCann? São muitas as perguntas que continuam sem resposta.

A NOITE DO DESAPARECIMENTO

Madeleine Beth McCann era a mais velha dos três filhos do casal Kate e Gerry McCann. Nasceu a 12 de maio de 2003 e vivia com a família na pequena vila inglesa de Rothley.

Os cinco aproveitavam o habitual calor primaveril do Algarve. Kate, médica anastesista, e Gerry, cardiologista, estavam de férias.

Na noite de 3 de maio de 2007, o casal deixou Maddie e os dois irmãos gémeos Sean e Amelie a dormir num dos apartamentos do resort Ocean Club, na Praia da Luz, e seguiram para jantar, num restaurante a poucas dezenas de metros.

Pouco depois das 21h00, Gerry regressou ao apartamento para ver se estava tudo bem com os filhos. Ainda estava, mas não por muito tempo.

Cerca de uma hora mais tarde, foi a vez de Kate verificar como estavam as crianças. Foi aí que o alerta surgiu: a cama de Maddie estava vazia e as janelas e estores estavam abertos. 


O resort onde estavam instalados os McCann.


Fotografia do quarto onde estava Maddie, divulgada seis meses depois do desaparecimento. Uma imagem não oficial, publicada pela imprensa britânica.


Foi um amigo do casal que avisou a receção do resort, que posteriormente alertou a GNR.
As autoridades chegaram ao local e, nessa noite, as buscas duraram até quase às cinco da manhã. Uma noite de procura infrutífera, que marcou o início de um dos casos mais polémicos e mais mediáticos de sempre: Maddie McCann, uma criança britânica de apenas 3 anos, desaparecera em Portugal.

A primeira declaração dos McCann aos jornalistas.



BUSCAS E INVESTIGAÇÃO INICIAL 

Passada a primeira noite sem sinais de Maddie, os alertas ganhavam cada vez mais dimensão. Casas vizinhas inspecionadas uma a uma, operações STOP nas estradas de acesso à Praia da Luz, dezenas de populares envolvidos nas buscas e até a costa era patrulhada pela Polícia Marítima. Mas nada. Nenhuma indicação de que a criança estivesse perto de ser encontrada.

    Vasco Celio / Reuters

    Hugo Correia / Reuters



Uma semana depois do desaparecimento, a GNR informava que as buscas se encontravam "em fase de conclusão". 



Começaram então a surgir as primeiras teorias e os primeiros suspeitos. Uma das pistas apontava para a possibilidade de Maddie ter sido levada a bordo de um veleiro, num alegado rapto em que estaria envolvido Robert Murat (na altura o único arguido no caso) e um suspeito procurado em Espanha por tentativa de rapto de uma menor, no verão anterior.



Associadas a estas primeiras conclusões estavam também vários testemunhos, dados através de telefonemas para as autoridades. Cada vez mais caminhos, cada vez menos certezas.



Em agosto, a Polícia Judiciária admitia publicamente, pela primeira vez, a possibilidade de Maddie estar morta, depois de ter sido recolhida uma amostra de sangue de uma das cortinas no apartamento em que estava a criança britânica. 

Um cenário que motivou as primeiras críticas do casal McCann às autoridades portuguesas. 



POLÍCIA JUDICIÁRIA VS MCCANN 


Numa fase ainda precoce da investigação, a PJ garantia que não recaíam quaisquer suspeitas sobre a família ou amigos de Maddie. Contudo, um mês e meio depois do desaparecimento, essa realidade deixava de o ser, com a Judiciária a assumir que esses mesmos familiares e amigos poderiam ter danificado indícios importantes no apartamento onde estava a criança. Uma destruição de provas que colocava a investigação em risco. 

As primeiras críticas à investigação portuguesa vindas do Reino Unido foram veiculadas pela imprensa britânica, que acusou funcionários da PJ de forjarem provas. Em resposta, a Associação Sindical dos Funcionários de Investigação Criminal admitiu a hipótese de processar alguns jornais.


Em agosto, o casal McCann dizia manter a confiança na polícia portuguesa. Mas, um mês depois, novas evidências davam novos contornos à investigação: tinha sido encontrado cabelo de Maddie na tampa do fundo falso da bagageira de um carro alugado pelos McCann. Um cenário que levou as autoridades a admitirem a hipótese do corpo ter sido escondido no local destinado à roda suplente do automóvel. 

Kate e Gerry McCann voltam a ser interrogados e acabam por ser constituídos arguidos, ficando sujeitos a termo de identidade e residência. O casal nega qualquer envolvimento no rapto e regressa, dias depois, ao Reino Unido. 

Um desfecho que deixa os McCann em xeque, com a possibilidade de perder os gémeos aliada às queixas de Kate sobre os filhos e o marido.

    Hugo Correia

É também por essa altura que um dos irmãos de Gerry sai em defesa do casal e deixa críticas à imprensa nacional. 

A investigação segue sem progressos significativos até julho de 2008, altura em que o caso é arquivado pelas autoridades portuguesas. Tal desfecho leva os pais de Maddie, que deixavam de ser suspeitos, a admitirem a possibilidade de processar a Justiça portuguesa.

     Vasco Celio


É também nessa altura que o inspetor da PJ responsável pelo processo (que entretanto deixara de o ser), Gonçalo Amaral, lança um livro que promete revelações polémicas sobre o caso. Em reação, os McCann processam o antigo inspetor e é lançado um frente-a-frente que duraria vários meses e chegaria à barra dos tribunais.

    Joao Henriques / AP


Associadas às críticas da imprensa britânica, também as autoridades do Reino Unido começam a questionar a investigação portuguesa, num processo que tinha cada vez mais perguntas e cada vez menos respostas. 


UM PROCESSO DE AVANÇOS E (MAIS) RETROCESSOS 

Sem contar com os inúmeros alegados avistamentos de Maddie, que, na esmagadora maioria das vezes, pouco ou nada contribuíram para a investigação, o caso registou, ao longo dos anos, mais retrocessos que avanços.


Em abril de 2009, o jornal britânico Sunday Express divulga um retrato robot de Maddie, já com quase 6 anos, com ligeiras mudanças no rosto e a mesma marca distintitiva na íris do olho direito. Uma imagem que se revelou infrutífera.



Mais de um ano e meio depois do arquivamento do caso, em fevereiro de 2010, o casal McCann volta a pedir às autoridades portuguesas que revejam todas as informações e pistas recolhidas ao longo da investigação. 

O pedido não é imediatamente acedido e, dois anos depois, é a polícia inglesa a avançar com um processo de investigação próprio, alegando ter novas pistas. Nesse âmbito a PJ de Faro volta a efetuar diligências e, a 24 de outubro de 2013, o Ministério Público reabre o processo. 

São feitas buscas em diferentes zonas da Praia da Luz e nos arredores, acompanhadas por inspetores da Scotland Yard, novamente sem êxito.

No final de 2014, a polícia britânica regressa a Portugal para ouvir mais testemunhas, mas as inquirições voltam a não surtir resultados conclusivos. Ao longo dos meses que se seguiram, o número de retrocessos voltou a ser muito superior à quantidade de avanços. 


INTERNACIONALIZAÇÃO E MEDIATIZAÇÃO DO CASO 

Talvez por muitas perguntas não terem resposta, o desaparecimento de Maddie tornou-se rapidamente num caso de rara mediatização, ultrapassando desde cedo as fronteiras nacionais. 

O quarto aniversário da criança, apenas nove dias depois do desaparecimento, foi marcado por orações e várias manifestações de apoio, numa igreja na Praia da Luz repleta de ingleses e portugueses.

O caso moveu e comoveu milhões de pessoas e , nesse mesmo maio de 2007, foram colocadas à venda em Inglaterra milhares de pulseiras de borracha para lembrar o desaparecimento de Maddie.

Apenas dias depois, Kate e Gerry marcavam presença na audiência semanal do papa Bento XVI, no Vaticano, na qual o Sumo Pontífice trocou algumas palavras com o casal e benzeu uma fotografia da criança.

O rosto de Maddie estava em jornais e televisões de todo o mundo. 

Em maio de 2009, o casal McCann dava uma entrevista ao programa de Oprah Winfrey, um dos talk shows mais vistos no planeta.

A onda de solidariedade por Maddie chegou também ao desporto, com jogadores como Cristiano Ronaldo (que na altura jogava no Manchester United), David Beckham ou John Terry a deixarem apelos e mensagens de apoio.


A mensagem de David Beckham.
A mensagem de David Beckham.
Reuters TV



A elevada mediatização do caso não produziu apenas efeitos positivos e um dos exemplos de reveses dessa mesma internacionalização foram dois casos com consequências criminais: o de uma britânica que recolhia fundos para "apoiar" as buscas e o de um casal (um italiano e uma portuguesa) detido em Espanha após ter tentado extorquir dinheiro aos pais de Maddie.


10 ANOS DEPOIS

Passaram-se 10 anos do desaparecimento de Madeleine McCann e são muitas as perguntas que continuam por responder sobre o paradeiro de Maddie que, se ainda estiver viva, está prestes a completar 14 anos.

Já em março deste ano, ficou a saber-se que a polícia britânica vai receber mais 97 mil euros para continuar a investigar o caso pelo menos por mais seis meses.

Em abril, foi a Polícia Judiciária a reiterar que "o caso continua aberto" e foi entregue a uma equipa de investigadores do Porto. 

Também em abril, a televisão australiana Channel 7 transmitiu um documentário que prometia novas revelações sobre o caso mas que acabou por não dar resposta às perguntas essenciais. O programa foi muito criticado e, segundo a imprensa britânica, até os pais de Maddie se mostraram descontentes com o conteúdo transmitido. 

Na mais recente manifestação pública sobre o desaparecimento da filha, os McCann recordam outros casos de crianças desaparecidas que reapareceram depois de vários anos e lamentaram um marco temporal "horrível". 

Na carta, publicada na página da fundação, Kate e Gerry antecipam semanas "stressantes e dolorosas" devido à "desinformação, meias-verdades e mentiras" que vão encher jornais, emissões televisivas e redes sociais. 

Dez anos depois, o casal agradece pelo "amor, solidariedade e apoio" que recebeu de várias pessoas ao longo da última década, que os fez "manter a fé na bondade humana".

O último retrato robot de Maddie, divulgado em 2012, que mostra como estaria a criança aos 9 anos.


O último retrato robot de Maddie, divulgado em 2012, que mostra como estaria a criança aos 9 anos.



Mais de 3.600 dias depois do desaparecimento, o caso continua a atrair a atenção da imprensa internacional, mas a pergunta das perguntas continua sem resposta: o que aconteceu, afinal, a Madeleine McCann?


Fonte: http://sicnoticias.sapo.pt/especiais/caso-maddie---10-anos/2017-05-02-Dez-anos-depois-o-que-aconteceu-a-Maddie-








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