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quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Comida Halal, o que é isso?

Nas minhas primeiras visitas ao supermercado aqui em Doha fiquei feliz da vida ao encontrar frango Sadia, vindo direto do Brasil. Quando se está morando fora, esses pequenos prazeres dão um alívio na árdua tarefa de desvendar o novo, afinal é bem mais fácil optar por aquilo que já se conhece.


Fiz o franguinho conforme mamãe me ensinou, bastante limão, pouco sal e notei que embora parecesse o mesmo que comia no Brasil o gosto era diferente. Conferi a embalagem e lá estava a explicação : o frango era Halal.


Halal? Que diabo é isso?


Os muçulmanos acreditam que o alimento pode influenciar a alma, comportamento, saúde moral e física dos seres humanos. Por isso a religião determina que todo fiel deve se preocupar em conhecer a origem do que está comendo. Se a comida está em conformidade com as leis do islã ela é chamada de Halal (que, em árabe, significa lícito e autorizado) o oposto são os alimentos Haram (que em árabe significada ilícito, pecaminoso).

Ok. Agora você deve estar se perguntando o que determina se um alimento é Halal ou Haram? No Corão ( livro sagrado da religião) existem pelo menos vinte e quatro versículos que referem-se a prescrições no domínio alimentar.



Alguns alimentos são, por sua natureza, considerados Halal, como os peixes pescados vivos, leite (de vaca, ovelha, cabra ou camela), mel, plantas não tóxicas, legumes frescos ou congelados em natura, frutas frescas e secas, leguminosas como amendoim, nozes, castanhas etc, grãos como o trigo, arroz, milho, aveia etc. Quanto ao consumo de frutos do mar esse depende do seguimento religioso, para alguns é Halal, para outros é Haram, exceto pelos camarões que são sempre permitidos.


De antemão já sabemos que a carne de porco e as bebidas alcoólicas são consideradas Haram. Outras coisas proibidas para os muçulmanos são o consumo de carne de cão, animais selvagens (leão, urso, etc), animais antropomórficos (macacos por exemplo), aves de rapina, répteis, anfíbios e insetos e tudo o que é considerado prejudicial a saúde (drogas, pesticidas, agro-tóxicos). Até aí nenhuma novidade, o pulo do gato está na última informação: eles não podem consumir carne de animal que não tenha sido abatido da maneira que determina o Corão.

Os islâmicos só comem carne (frango, peru, boi e carneiro) se o animal tiver sido degolado com o corpo voltado para a cidade sagrada de Meca (na Arábia Saudita), ainda vivo e pelas mãos de um muçulmano praticante, geralmente árabe, que pede autorização a Deus, em árabe, no momento do abate, como forma de mostrar obediência e agradecimento pela comida e reafirmar que não está matando o animal por crueldade ou sadismo. Após o corte da artéria carótida e da veia jugular, o animal deve ser suspenso pelas patas traseiras até que todo seu sangue seja drenado. A faca usada deve ser super afiada para garantir a morte instantânea do animal, sem sofrimento.

Acredito que deva ser por conta dessa drenagem que o gosto de tudo fica diferente.

Uma coisa interessante é que a caça é autorizada pela religião, porém ao acertar o animal eles devem declarar a bismillah (Uma reza que diz : Em nome de Deus, o clemente e misericordioso). Os animais sacrificados a outros deuses não devem ser consumidos.


Thaís, então isso quer dizer que a Sadia tem uma fábrica virada pra Meca no Brasil, onde a população de muçulmanos não é tão significativa? Isso mesmo! Eles não estão interessados nos muçulmanos que vivem lá e sim em exportar para os que vivem aqui.




Num mundo globalizado de produção em massa de alimentos pode parecer difícil manter o controle do que é ou não Halal; mas, esse é um assunto muito sério por aqui e, por isso, antes de importar qualquer coisa, eles exigem que tenha um selo de aprovação pela entidade de fiscalização muçulmana responsável no país, que no caso do Brasil é a Cibal Halal (Central Islâmica Brasileira de Alimentos Halal), braço operacional da Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (FAMBRAS), que atua no país desde 1979.

O consumo de alimento Halal não é hábito só de muçulmanos, judeus e até algumas linhas do cristianismo também são adeptos da prática. E, por isso, é possível encontrar restaurantes Halal por todo mundo.


Em 2015 havia cerca de vinte restaurantes registrados como Halal no Brasil. A maioria em São Paulo e Foz de Iguaçu onde a concentração de muçulmanos é maior. Para saber quais são esses restaurantes clique aqui. Inglaterra e Estados Unidos, com uma demanda bem maior que a do Brasil, possuem lista extensa de estabelecimentos voltados para esse público.


Bom Thaís, eles não comem porco e você está morando aí. Quer dizer então que você nunca come feijoada? Eles não comem, mas eu como! No Qatar para adquirir e consumir carne de porco e bebida alcoólica é preciso tirar uma licença com autorização do seu responsável no país. Existe um centro de distribuição no qual, com a autorização em mãos e um depósito reembolsável de QR 1000 (274 dólares), você pega a sua licença para fazer um almoço típico brasileiro regado a feijoada e caipirinha.




           
Thaís já foi atriz de teatro amador, bailarina torta, advogada e professora universitária. Desde que chegou ao Oriente Médio no início de 2014 já acumulou outras tantas profissões mas a que guarda com mais carinho é a de desbravadora profissional e disseminadora de informação. Como uma boa capricorniana nunca se acostumou à mudança, porém não desistiu de dar o seu melhor para o mundo.

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