Trata-se de uma ação que não muda substancialmente a relação entre EUA e Israel, países cuja parceria é antiga e profunda.
Porém, se consideramos o pendor do presidente Donald Trump para se guiar pelos efeitos midiáticos de seus atos, vemos um claro sentido propagandístico na mudança da embaixada norte-americana da recente Tel Aviv para a milenar Jerusalém. Ocupando o noticiário mundial, a ação simbólica do governo dos EUA direciona as atenções para longe dos temas que desagradam pessoalmente a Trump, como a investigação especial, em andamento, sobre a interferência russa nas eleições que o levaram ao poder em 2016.
Os protestos que agitam os territórios palestinos, e até mesmo regiões de Israel, dão conta da facilidade com a qual pode se inflamar o conflito histórico pelo controle dessas terras. O que não se vê facilmente, entretanto, é a paulatina mudança no padrão do conflito que envolve Israel há décadas, algo que pode dizer muito a respeito das perspectivas para a paz.
Em um curto resumo, o Estado de Israel travou conflitos nos quais estava em jogo sua existência contra quase todos os países vizinhos, em três ocasiões: 1948, 1967 e 1973. Também ocorreram operações de larga escala, envolvendo grandes forças militares em 1956 e em 1982, ambos momentos nos quais Israel buscou eliminar ameaças que considerava graves a seu povo e território. Para além desses episódios, o mais recente ocorrido há 36 anos, não houve mais guerras que envolvessem Israel: se há quem diga que a paz é mais do que a ausência da guerra, também é inegável que o fim dos conflitos nacionais em grande escala seja motivo para celebração.
A explicação para essa relativa paz é simples: mesmo que a contragosto, os governos árabes do Oriente Médio passaram a aceitar a presença de Israel na região como um fato consumado. Qualquer ação militar tende a ser malvista, pelos vizinhos árabes, a partir da lembrança das sucessivas vitórias obtidas por Israel no longo dos anos. A guerra, como opção à ação política tradicional, exauriu-se por si só. Talvez por isso Egito e Jordânia mantenham relações políticas normais com Israel já há décadas.
Os choques que vemos hoje, em torno do status de Jerusalém como capital de Israel, são de um tipo bem distinto: opõem populações civis de origem árabe ao Estado de Israel, sendo, portanto, mais semelhantes a protestos do que às guerras do passado. Por mais que se registrem vítimas e danos ao patrimônio, os protestos populares contra Israel são infinitas vezes menos nocivos do que qualquer uma das guerras do passado. Mesmo tomando a trajetória das manifestações iniciados pela população palestina em 1987, também nesse caso é possível ver a redução progressiva das tensões no longo prazo, assim como a consolidação de posições mais políticas do que bélicas entre os opositores.
Aos poucos, o ciclo de violência envolvendo Israel e os árabes vai perdendo força, e a agressividade lentamente dá lugar à convivência. Ainda falta muito para que flores e sorrisos façam parte desse cotidiano, mas já se pode comemorar o fato de que invasões, tanques e bombardeios tenham desaparecido da retórica política da região. Uma visão de longo prazo, portanto, nos permite perceber que, mesmo que não pareça, a paz está sim chegando à Terra Santa.