Se algum dia alguém, em Ponte de Lima, o convidar para ir às "fodinhas quentes" com "putinhas" a acompanhar, não se ofenda, nem se espante. Pelo contrário, aceite e divirta-se. A proposta consiste em visitar a tasca "Os Telhadinhos", situada no centro da vila, e comer pataniscas de bacalhau com uma malga de tinto a acompanhar. O divertimento é garantido, ou não fosse o cardápio inventado pela proprietária, Dona Márcia, um verdadeiro chorrilho de petiscos, cada um mais picante que o outro. Entre quase duas dezenas, poucos são os que, além dos "Biquinhos de amor" (caprichos de marisco), escapam à brejeirice.
"A especialidade da casa são 'fodinhas quentes'. Tenho cá excursões de espanhóis que vêm de longe só por causa delas", diz Márcia Correia, 42 anos, contando como nasceu o seu cardápio picante. "No princípio pensei Se vou pôr na ementa que há panados, rissóis ou bolinhos de bacalhau, não chamo a atenção a ninguém. Então inventei", conta, explicando que, na sua tasca, "um bolinho de bacalhau é um mentiroso". Porquê? "Porque se tem mais batata que bacalhau, então é mentiroso". A orelha de porco é "Vanico de ronca". Porquê? "Porque o porco ronca e a orelha abana", ri.
As codornizes são "Escarrapachadas quentes" porque são cozinhadas abertas; os caracóis "Corninhos de marcha lenta", vá-se lá saber porquê; e o prego no pão é "Corno na racha", porque "os pregos às vezes são duros como cornos e vão servidos no meio do pão".
Há ainda os "Tique-taques-no-redondo", que são corações de galinha no prato; o "Perigoso na racha", que é "fígado perigoso porque, se bebemos de mais, estragamo-lo; e os "Chupões de molho verde", são polvo "que está no mar a chupar nas pedras".
As tigelas de vinho são "Putinhas" (a mais pequena), "Meia queca" e "Queca cheia". Quanto à especialidade da casa, Dona Márcia conta "Já vem do tempo em que tinha um café em Ponte da Barca. Um dia a empregada esqueceu-se de pôr bacalhau nas pataniscas e um cliente reclamou. Eu expliquei-lhe e ele respondeu-me 'Isto é que foi uma grande foda!'".