O Almirante Gago Coutinho elaborou um plano para substituir as bandeiras de sinalização utilizadas nas embarcações marítimas.
No ano em que se comemoram os 150 anos do nascimento de Gago Coutinho, o Arquivo Histórico da Marinha divulgou esta sexta-feira um documento inédito do almirante que ficou conhecido por fazer a primeira travessia aérea do Atlântico Sul, mais precisamente entre Lisboa e o Rio de Janeiro.
O documento redigido por Gago Coutinho, que além de navegador foi geógrafo, cartógrafo, oficial da Marinha Portuguesa e historiador, trata-se de um Projecto de Aparelho de Sinaes por Luz Eléctrica e foi apresentado ao Conselho do Almirantado a 19 de Setembro de 1897, há quase 122 anos.
Para a comemoração do nascimento do almirante, os CTT pediram ao arquivo que lhes enviassem algumas fotografias de Gago Coutinho e do seu trabalho para que fossem emitidos selos de homenagem. Isabel Beato, arquivista da Biblioteca Central da Marinha, diz que o documento agora inédito “foi descoberto onde sempre esteve” quando procurava pelas tais fotografias.
“Temos cá no nosso arquivo uma caixa com vários documentos de Gago Coutinho, como também temos de outros investigadores e oficiais, e este documento estava na caixa 735, a do almirante, onde sempre esteve”, conta a arquivista.
Uma das páginas do projecto BIBLIOTECA CENTRAL DA MARINHA |
Segundo conta ao PÚBLICO Rui Pinto, investigador e professor de história na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e o escritor de várias obras biográficas sobre o almirante, diz que o património de Gago Coutinho está espalhado por várias entidades, incluindo no Museu e Arquivo Histórico da Marinha, Arquivo da Força Aérea e na Academia de Ciências de Lisboa.
Isabel Beato diz que, apesar do manuscrito com a letra do almirante ser inconfundível, pediram ao já perito no tema Rui Pinto que autenticasse o documento e o transcrevesse, isto no fim de 2018, altura em que a arquivista descobriu o documento.
Em concreto, os papéis contêm um plano de construção de um aparelho que poderia vir a substituir o velho esquema das bandeiras que era usado em cada embarcação e que hoje ainda é hoje utilizado. Segundo Isabel Beato, o documento explica não só como pode ser construído o aparelho como também tem várias imagens que ilustram o projecto.
A acompanhar o projecto estava também um “Aditamento à Memória sobre um Novo Aparelho de Sinaes Eléctricos”, proposto ao Comando da Divisão da Reserva em 17 de Agosto de 1899. Segundo conta Rui Pinto, este segundo documento é apenas um melhoramento do primeiro, mas em quase tudo semelhante.
Se este projecto foi aprovado ou não, é incerto, mas Isabel Beato garante que será consultado o arquivo do Conselho do Almirantado, para se saber se existiu ou não um despacho que deu luz verde ao plano de Gago Coutinho.
Um homem à frente do seu tempo
Rui Pinto acredita que Gago Coutinho tinha uma capacidade científica que não era muito comum naquela época e estava à frente do seu tempo. “A maior parte das pessoas conhece-o apenas pela travessia pelo Atlântico, mas era um curioso nato e investigou sobre astronomia, matemática, até na teoria da relatividade ele meteu um pezinho”, diz o investigador.
Gago Coutinho foi também presidente do Vendedores de Jornais Futebol Clube (em Lisboa), a continuação de uma associação que desde 1921 abrigava os ardinas que precisavam de pernoitar na cidade e que fechou em 2018.
A capa do projecto do almirante onde se lê "projecto de aparelho de sinaes por luz eléctrica", o nome do plano BIBLIOTECA CENTRAL DA MARINHA |
Outro dos desenhos ilustrativos do projecto BIBLIOTECA CENTRAL DA MARINHA |
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